19/12/2022

Quando o assunto são os microrganismos, é comum que as pessoas os associem com os aspectos negativos desses seres. Não é novidade que os microrganismos são causadores de doenças, mas eles também exercem um papel fundamental para a manutenção da vida no planeta. Prova disso é que sem eles não haveria, por exemplo, a conservação de alimentos nem os medicamentos. 

Os microrganismos exercem também um papel fundamental na ciclagem de nutrientes e manutenção da qualidade dos solos. Compreender como isso acontece é o foco da pesquisa de Rafael Valadares, microbiologista do solo, engenheiro agrônomo e pesquisador do ITV. 

Desde 2017, o pesquisador investiga a fixação de carbono no solo a partir da ação de microrganismos. Esse estudo permite traçar quais são as melhores práticas para um determinado tipo de solo, a fim de que a fixação de carbono no solo seja favorecida e, consequentemente, regularize as taxas de estoque e emissão de carbono pela atividade agrícola. 

“Sabemos que existem práticas agrícolas que podem favorecer a fixação de carbono no solo, enquanto que outras práticas podem desfavorecer, podem podem fazer com que a gente perca a matéria orgânica do solo. Por exemplo, práticas conservacionistas do solo também ajudam a manter carbono estocado no solo”, explica Rafael. 

O grande diferencial da pesquisa desenvolvida no ITV é a utilização de técnicas moleculares para medição de atividade microbiana em diferentes cenários. Rafael Valladares explica que a partir da análise de genes e proteínas no solo é possível saber quais os microrganismos existem em uma determinada área e, consequentemente, identificar como se dá o processo de de fixação de carbono no solo de uma determinada região. 


Pesquisa do ITV visa aumentar o estoque de carbono no solo nas práticas de recuperação florestal, ajudando a reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera.

Mercado de carbono e mudanças climáticas

Além de permitir a adoção de práticas agrícolas mais adequadas às necessidades do solo, a pesquisa coordenada por Rafael também tem impacto direto no controle das mudanças climáticas. Isso porque, o balanço de carbono é um dos principais fatores que influenciam nessas mudanças. 

Se os solos são responsáveis por estocar pelo menos metade do carbono do planeta, torna-se evidente que eles têm um papel importante no balanço de carbono. A relevância da pesquisa de Rafael torna-se ainda mais explícita quando essa relação é compreendida. 

Tanto é que o trabalho do pesquisador foi citado durante a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas – COP 27, que aconteceu em novembro de 2022, no Egito. O estudo comandado por Rafael faz parte de uma série de iniciativas da Vale para a descarbonização. 

“Monitorar a evolução da qualidade do solo é essencial para que a gente tenha carbono no futuro. E, hoje, o mercado de carbono é importante. Quanto mais carbono tivermos estocados, maior será nossa posição estratégica nesse mercado. Por isso precisamos também de boas práticas de manejo do solo”, finaliza o pesquisador.