Em integração com outras linhas de pesquisa do ITV, grupo de Biodiversidade e Serviços Sistêmicos realiza pesquisas que vão da Ecologia, passando pela Sistematica, genômica e bioeconomia
Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Valéria Tavares coleciona histórias que mostram sua paixão pela vida, pela natureza e pela biodiversidade. Ela é mestre em ecologia, conservação e manejo da vida silvestre. É também especialista em morcegos e fez o seu doutorado no Museu de História Natural de Nova York. Como consequência de suas paixões e de seu extenso currículo, Valéria coordena, hoje, o grupo de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do ITV.
“Trabalhar com biodiversidade é se encantar pela vida todos os dias. Acredito que o motivo de eu ser líder da linha de biodiversidade tem a ver com isso. Nós, como grupo, temos o interesse difuso pela natureza, pelos processos e pelas interações ecológicas. Também nos preocupamos com os resultados das interações entre homem e natureza, o valor da floresta e os benefícios para o ser humano”, conta a pesquisadora.
O grupo de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos do ITV é formado por pesquisadores com formações variadas. Ao todo, são sete cientistas que se dividem entre zoólogos especialistas em abelhas, morcegos, répteis e anfíbios, botânicos e especialistas em bioeconomia. Juntos, os pesquisadores formam um painel potente de estudiosos capazes de investigar as nuances e complexidades da biodiversidade e suas consequentes integrações.
“Eu tenho esse interesse difuso pela natureza de forma geral, e o ITV é um lugar fantástico nesse sentido. Porque você pode trabalhar com pessoas que trabalham com as mais variadas coisas. E isso acontece tanto no sentido do biótico, do que é vivo, quanto do abiótico”, comenta Valéria”
A importância dos dados
Alguns estudos do grupo são orientados por uma pergunta-chave: como as atividades humanas impactam a fauna e a flora? A partir disso, os pesquisadores investigam não só como diminuir o impacto à biodiversidade, mas também como a natureza, preservada, pode oferecer recursos para a existência humana. Valéria dá um exemplo:
“Nós estamos tentando fazer um estudo que é super inovador. Vamos investigar, a partir de parâmetros fisiológicos, se os morcegos têm respostas de estresse à mineração. Estamos tentando entender como são os parâmetros fisiológicos basais do bicho para ver a variação diante da atividade. Em um segundo momento, veremos se e como isso se expressa na morfologia do próprio morcego. Essa é uma forma inovadora de investigação, pois não precisamos retirar o animal da natureza”, comenta.
Outra vertente de estudos do grupo está relacionada à bioeconomia. Os pesquisadores buscam compreender as relações entre o homem e os recursos naturais. A proposta é entender o que a floresta pode oferecer para a nossa espécie e, é claro, como o uso desses recursos pode ser feito sem impactar na biodiversidade. Para isso, há um elemento importante que integra todas as pesquisas: a ciência de dados.
Valéria explica que os estudos realizados pelo grupo são baseados em dados variados: morfológicos, ambientais, genéticos, de localização, entre outros. Essas informações são fundamentais para o entendimento da biodiversidade como um todo. As análises resultantes, contudo, apresentam resultados mais completos quando há o cruzamento desses dados.
“Nessa área de biodiversidade, é muito importante trabalhar com conjuntos independentes de dados. Então, os dados morfológicos são um conjunto de dados, os dados genéticos são outro conjunto. Se a gente consegue trabalhar com esses dois conjuntos, a gente tem mais evidência sobre o mesmo fenômeno. Uma coisa muito legal que estamos desenvolvendo é o uso da genética para entender fenômenos de natureza ecológica. Esse é um universo fascinante”, explica Valéria.
Integração entre as linhas
Outro elemento importante que orienta as pesquisas do grupo é a interdisciplinaridade que permite a integração com as outras linhas de pesquisa do ITV. O grupo de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos tem projetos executados em parcerias com todas as áreas do instituto: Ciência de Dados, Tecnologia Ambiental, Socioeconomia, Geologia e Recursos Hídricos e Genômica Ambiental. No último caso, Valéria explica a interação do grupo com o projeto “Genômica da Biodiversidade Brasileira”, realizado em parceria com o ICMBio.
“Por meio do DNA Ambiental é possível saber quais espécies estavam presentes em uma determinada região por meio de amostras do ambiente. Queremos utilizar esse componente para ampliar nossa capacidade de capturar informações de biodiversidade já obtidas por métodos tradicionais”, detalha.
Outro projeto de destaque do grupo é realizado em parceria com a linha de Ciência de Dados. Por meio do uso de gravadores especiais, os pesquisadores podem investigar o padrão de sons emitidos por morcegos, o que, consequentemente, permite a identificação das espécies presentes em uma determinada caverna.
““Atualmente, estamos vivendo um momento de transição no grupo. Temos investido nessa ideia de um monitoramento bem feito e de trabalhar de forma integrada ao meio ambiente. São estudos cujo tempo de duração é difícil de precisar, pois depende [da geração] do ciclo de vida de organismos. Então, o grupo está em um momento muito forte de propor esse tipo de pesquisa, o que seria um sítio permanente de pesquisa”, finaliza Valéria.
Confira aqui a entrevista com Ronnie Alves, coordenador do grupo de Ciências de Dados do ITV, sobre o algoritmo que permite a identificação de espécies de morcegos.