Os extremos climáticos referem-se a fenômenos que ocorrem em quantidades significativas e fora dos padrões considerados normais. Anteriormente, eventos como secas prolongadas, chuvas torrenciais e ondas de calor eram muito menos frequentes em comparação com a atualidade. No entanto, a crise climática tem intensificado a severidade e a frequência desses eventos extremos. Para o campo da mineração, o entendimento sobre os extremos climáticos é fundamental tanto para ações de adaptação quanto para tomada de decisões.
É por isso que, desde 2016, o ITV busca estudar os impactos da mudança do clima nas operações da Vale, já que, por ocorrerem a céu aberto, os processos da empresa estão sujeitos às condições ambientais, sobretudo às condições meteorológicas adversas. Um estudo prévio realizado pelo ITV, a partir de dados observacionais no porto e na Serra Norte, apontou para uma tendência de aumento da precipitação acumulada nos meses mais chuvosos. Esse cenário refletiu em impactos em toda a cadeia de mineração devido ao ganho de umidade no minério e à dificuldade em seu manuseio. Essas condições podem ser agravadas por conta das alterações climáticas que tendem a aumentar a intensidade e/ou frequência dos eventos extremos.
Foi assim que surgiu o projeto “Cenário de eventos extremos”, da equipe de meteorologia do Instituto, coordenado pela pesquisadora Claudia Wanzeler. Ela é quem explica sobre o projeto:
“A ideia é trazer para empresa a visão mais ampliada das características tanto espaciais, quanto temporais dos eventos extremos sobre o corredor norte da Vale. O estudo é dividido em temas: o primeiro é a observação dos extremos climáticos. Nessa fase, avaliamos, a partir de dados observados, se está havendo modificações nos regimes de chuva e em quais regiões isto já vem ocorrendo. A outra parte do projeto é dedicada à modelagem climática, para o qual o modelo está sendo ajustado para a região de estudo. Por meio da modelagem numérica, podemos obter os cenários futuros para estes eventos sobre a cadeia mineral e avaliar seus possíveis impactos. E, por fim, há ideia de se fazer uma análise de quais áreas do corredor norte podem ser mais vulneráveis aos extremos, mediante ao que já vem ocorrendo”, detalha Claudia.
Projeto em andamento
Claudia Wanzeler conta que, no primeiro ano de projeto, foi desenvolvida toda a parte observacional com a organização de dados e análise das bases de dados que melhor representassem a sazonalidade das chuvas sobre o Corredor Norte. A pesquisadora explica que essa coleta de informações é algo sensível para o estudo, pois não existe uma base de dados observacional com uma boa consistência sobre a Amazônia. É nesse ponto que a modelagem se torna uma ferramenta indispensável para a compreensão dos dados.
“Em 2024, começaremos a avaliar a performance do modelo em representar o clima atual, utilizando as bases de dados observacionais selecionadas neste estudo prévio”, comenta Claudia.
Por fim, a pesquisadora comenta sobre as modificações no regime de chuvas na Amazônia Oriental, encontrado neste segundo ano de projeto: “Nos últimos 42 anos, entre os meses chuvosos, dezembro a fevereiro, foram observadas duas quebras estruturais na série de dados observada, uma em 1994 e outra em 2009. Isso alterou a distribuição da chuva no trimestre, que em média era de 43 dias, e que passou a ser de 42 dias durante o primeiro regime analisado (1982 a 1994) e depois aumentou para 45 dias a partir do segundo regime (2009 a 2022). O que pode explicar a tendência de aumento da chuva na região.”
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