O aumento dos incêndios florestais impactam duplamente no clima e na biodiversidade em um ciclo contínuo de retroalimentação. A liberação de dióxido de carbono na atmosfera resultante dos incêndios contribui para mais eventos de extremos climáticos, o que cria condições propícias a incêndios mais frequentes e intensos. Os incêndios também afetam a biodiversidade, uma vez que destroem florestas e suas espécies. O que também reforça a ocorrência de eventos extremos climáticos.
Então, o controle de incêndios é uma ação crucial para o clima e para a biodiversidade. Sabendo disso, a Reserva Nacional Vale desenvolve, desde 2020, um projeto que visa mapear a ocorrência dos incêndios aumentando a agilidade da ação de brigadistas para a contenção do fogo. Isso é feito por meio de modelos algoritmos treinados para identificação de focos de incêndio.
Mariana Senna, é engenheira cartógrafa e uma das responsáveis pelo projeto da RNV. Em conversa com o ITV ela falou sobre esse e outros projetos da Reserva que buscam contribuir para o controle dos eventos climáticos extremos. Confira:
ITV: Quais são as ações da Reserva Natural Vale para controle dos eventos de extremos climáticos?
Mariana: Em 2020, dentro da proposta de iniciativa de inovação aberta da Vale, inserimos o controle de incêndios florestais como solução para alguns desafios apontados pela empresa. O objetivo era conseguir desenvolver tecnologias para nos ajudar a mitigar os incêndios no entorno das áreas da Vale. Percebemos que é um tema bastante complexo, pois não está relacionado somente a causas naturais. Agora, em 2023, conseguimos orçamento para desenvolvermos um modelo computacional de propagação de incêndio. Esse modelo vai nos dizer a probabilidade da propagação daquele fogo em determinado lugar. Para dados de entrada, precisamos dos dados de clima, dados de direção e velocidade do vento, temperatura e umidade. Também precisamos conhecer o terreno e qual o tipo de material que está queimando. Com isso, conseguimos rodar o algoritmo e esse modelo de propagação vai nos mostrar, ao longo do tempo, em 50 minutos, em uma hora, em quatro horas, para onde aquele fogo pode avançar.
ITV: Por que esse projeto é relevante?
Mariana: Esse modelo é muito importante para direcionamento do combate em campo. Aqui na Reserva nós temos um líder de brigada que tem uma experiência boa nesse sentido. Nós já tivemos bastante ocorrências de incêndio e ele sempre liderou muito bem. Essa tecnologia vai ajudar a direcionar esse combate, o que, consequentemente, diminui o risco dessas pessoas que trabalham nessa frente. Outro ponto é a relação com o clima. Com esse modelo, conseguimos contribuir, enquanto agenda da Vale Global, no controle de eventos climáticos que a gente vem percebendo, pois poderemos diminuir a quantidade de carbono que é liberada pelos incêndios. Além disso, conseguimos proteger a biodiversidade, uma vez que estamos trabalhando em uma área protegida. Então, perder floresta é uma coisa que a gente não quer.
ITV: O projeto está em que etapa de desenvolvimento?
Mariana: Vamos entregar um protótipo desse modelo agora em Dezembro. Com essa entrega, vamos conseguir implementar o modelo e atuar em todo o território nacional. A partir do momento que temos informações necessárias, conseguimos treinar o algoritmo para nos dizer a velocidade da propagação do fogo. Pois, quando há um incêndio precisamos saber a velocidade que ele está se espalhando para que a equipe possa atuar de forma adequada. Então, estamos, também, testando uma tecnologia, de sensoriamento remoto por satélite, em que eles são treinados para identificar os focos de calor e emitir sinais de alerta informando as coordenadas.
ITV: Quais outros projetos da RNV estão relacionados, direta ou indiretamente, com as mudanças climáticas?
Mariana: Temos projetos assinados com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) e o Instituto Estadual de Florestas (IEF) com o objetivo de restaurar até 540 ha de pequenas propriedades rurais na região de Ouro Preto/MG, além de parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), para a restauração de até 150 hectares de áreas degradadas. A partir dessas parcerias serão desenvolvidas ações para engajamento da comunidade, buscando fortalecer a bioeconomia local/regional. Além disso, a RNV possui um projeto em andamento que já realizou o inventário de 7,5 ha de área florestal em diferentes estágios de desenvolvimento e tem o objetivo de estimar o estoque de carbono da RNV. Essas são iniciativas importantes para tentarmos dar nossa contribuição no controle dos eventos climáticos extremos através do aumento da cobertura florestal, que reflete no maior sequestro de carbono e sustentabilidade ambiental. Nossas ações de proteção de florestas envolvem também sete unidades de conservação no RJ, ES e MG, correspondendo a mais de 115 mil hectares, voltadas para o viés de educação ambiental, contratação de monitores e doação de materiais para atuação nesses territórios.