18/08/2022

Em conexão à ação global convocada pelas Nações Unidas, que no ano passado declarou a Década para a Restauração dos Ecossistemas, o Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável promoveu, na quinta-feira (4) uma palestra virtual que trouxe, essencialmente, a  sobre dois temas convergentes. Na essência, o evento abordou os benefícios ecológicos, socioculturais e econômicos gerais dos sistemas agroflorestais e dos serviços de polinização para aumentar os rendimentos em tais  sistemas.

 Os professores Thomas Cherico Wanger e Manuel Toledo-Hernández Guerrero, especialistas em Sistemas Agroflorestais da The Global Agroforestry Network (GAN), que apresentaram como uma “rede colaborativa integrada de pesquisadores de diversas partes do mundo“.

Floresta agroflorestal de Cacau na Bahia
Floresta agroflorestal de Cacau na Bahia.
Por Manuel Toledo-Hernández e Tom Wanger

“Um milhão de espécies enfrentam risco de extinção e estamos vendo o quanto a agricultura convencional intensiva é responsável por isto. Um terço das emissões de carbono vêm da agricultura e sabe-se que 80% dessas emissões são causadas por desmatamento das florestas tropicais. Uma das ideias da ONU ao declarar a Década para a Restauração dos Ecossistemas foi incentivar a agricultura a recuperar áreas degradadas. Dados mostram que 350 milhões de hectares de áreas restauradas até 2030 podem resultar na captura de 13 a 26 giga toneladas de Gases do Efeito Estufa. Um dos oito alvos de restauração são terras agrícolas”, disse o professor Thomas Cherico Wanger.

E a importância dos sistemas agroflorestais para a restauração de terras agrícolas tem sido anunciada, com benefícios não só para o clima e a biodiversidade, como também para as questões socioeconômicas. O foco temático da The Global Agroforestry Network (GAN) é a “diversificação espaço-temporal da produção de cacau, café e borracha nos sistemas socioecológicos nas Américas, África Ocidental e Ásia”.

Thomas Wanger ressaltou que há uma lacuna de dados sobre o sistema agroflorestal de cacau, que já está sendo resolvida depois da criação de uma plataforma global, há dois anos, com colegas de diferentes instituições. A ideia é entender também os pontos críticos para impulsionar produção de cacau sustentável.

A viabilidade da produção agroflorestal de borracha consorciado com cacau é um dos temas apontados no relatório produzido pela GAN no ano passado e que está sendo usado, segundo Thomas Wanger, pela indústria de borracha.

O professor chamou atenção também para a importância do tema agroflorestal, que certamente estará na agenda da COP27, que este ano acontecerá no Egito, em novembro. A questão, disse ele, é que “o termo agrofloresta não é bem entendido pelos pequenos produtores e pelos stakeholders, ou mesmo pelos que decidem as políticas públicas”. Um dos projetos da GAN é reunir especialistas que possam preencher esta lacuna.

A importância da polinização, e da conservação dos polinizadores de cacau, foram temas da segunda palestra do evento, oferecida pelo professor Manuel Toledo-Hernández, também um membro representante da GAN. Ele apresentou um estudo que está sendo realizado agora no Sul da Bahia, onde polinizadores de cacau são monitorados com módulos Machine Learning.

“Isto pode nos ajudar a avançar nos estudos sobre quais são os polinizadores, já que são vários insetos que polinizam as flores”, disse o professor.

Manuel Toledo-Hernández mostrou dados conclusivos sobre a maior lucratividade da polinização manual, sistema que aumenta em 68% a renda de pequenos produtores. E concluiu mostrando que os serviços de polinização são a chave para os campos agroflorestais de cacau.

“Nossos estudos mostram ainda a necessidade de ferramentas de polinização para capturar benefícios e de se replicar os dados”, disse o professor.

Após a apresentação, os dois professores responderam as perguntas dos pesquisadores do ITV DS.