13/12/2021

Uma das urgências atuais é reduzir emissões de carbono para tentarmos evitar o aquecimento do planeta em mais de 1.5 graus Celsius até o fim do século. Trata-se de uma meta, e o cumprimento dela está sendo considerado seriamente pela Vale. Para garantir que a empresa vai reduzir em 33% suas emissões de carbono diretas ou indiretas até 2030 e ter o balanço líquido das emissões de Escopos 1 e 2 zero até 2050, a Vale vai investir até US$ 6 bilhões.

A estratégia para se alcançar esta meta é composta de três pilares, como explica Isabella Costa, que faz parte da equipe da Gerência de Mudanças Climáticas da Vale. Mudar processos para reduzir as emissões; sequestrar carbono da atmosfera através de projetos florestais ou de soluções baseadas na natureza e, por fim, como uma alavanca importante para chegar a emissões zero, comprar créditos de carbono, são esses três pilares.

Na rede criada pela Vale – interna e externamente – para ajudar nessa empreitada, O ITV DS tem uma parte importante, que corresponde às análises de riscos.  Os pesquisadores ajudam também nos estudos dedicados à área florestal. É onde entra o trabalho coordenado por Rafael Valadares, pesquisador do ITV DS. Trata-se de tentar identificar o papel dos microrganismos na ciclagem do carbono no solo, já que estocar o carbono no solo é uma das formas, apontada inclusive no último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês) de mitigar as mudanças climáticas.

“Manter o carbono no solo é uma alternativa para compensação ambiental para atingimento das metas florestais relacionadas ao acúmulo de biomassa”, explica Rafael.

A explicação é a seguinte: as árvores sequestram o carbono, que será estocado em suas raízes e na biomassa abaixo do solo. Quando a biomassa viva da floresta é removida e o solo é arado,  essa matéria orgânica é revolvida e exposta, facilitando sua decomposição. No curto prazo, ela vira nutriente para as plantas, mas esta decomposição é acompanhada pela liberação de CO2 que estava ali armazenado. Imaginem isso acontecendo numa floresta que seja suprimida sem manejo adequado.

Na pesquisa que a equipe do ITV DS está fazendo, a conclusão é esta: quando o objetivo é estocar o carbono no solo, é preciso privilegiar manejos que vão acumular matéria orgânica ao longo do tempo.

Entrevista/Rafael Valadares

De que maneira o ITV DS está ajudando no posicionamento da Vale  quanto à meta de carbono?

Rafael Valadares – O ITV DS sempre teve pesquisas que lidavam com o tema de ciclagem de nutrientes, que é o processo de absorção dos nutrientes minerais disponíveis no solo pelas plantas de um ecossistema – em florestas com recuperação de áreas degradadas com melhoria da qualidade do solo. Eu, por exemplo, estudo a biologia do solo desde 2014.

O que é a biologia do solo?

Rafael Valadares – Basicamente, trata-se de estudar o papel dos microorganismos na manutenção da qualidade do solo. Os microorganismos estão envolvidos, entre outros processos, na ciclagem de nutrientes que dão sustentação à vida naquele ambiente. Não tem como se pensar em produção de biomassa, em produção de alimentos, sem pensar em microorganismos do solo. Ao contrário do que o senso comum pensa, bactérias e fungos são importantes para a manutenção de ambientes, principalmente em ambientes estressados e muito dinâmicos como as áreas nativas da canga ou áreas em recuperação.

E como esse seu estudo chega ao sequestro de carbono?

Rafael Valadares – Com o tema carbono ganhando evidência na Vale, começamos a focar, neste estudo, a tentativa de descobrir o papel dos microorganismos para fixar o carbono no solo. Fomos fazendo algumas perguntas durante os estudos: Esse tipo de solo está fixando mais carbono ou está emitindo mais carbono? Quais os microorganismos que estão envolvidos na manutenção ou na emissão de carbono? Tudo isso nos mais diferentes ecossistemas.

As árvores são as principais sequestradoras de carbono. Como fazer para manter o carbono no solo quando é preciso suprimi-las?

Rafael Valadares – Sim, quando se tira uma floresta, normalmente isto é acompanhado do preparo do solo para a agricultura, o que pode envolver a queima e a aração do solo, revolvendo a matéria orgânica que estava ali há milhões de anos, diminuindo assim a quantidade de carbono, que é devolvido para a atmosfera.  Se você quer estocar carbono no solo, precisa privilegiar manejos, como os sistemas agroflorestais, que devem acumular matéria orgânica ao longo do tempo.

Entrevista/Isabella Costa

Como a Gerência de Mudanças Climáticas está atuando para ajudar a Vale na sua meta de carbono?

Isabella Costa – Nosso trabalho inclui a gestão de carbono da Vale, como os inventários de emissões de carbono.  Reportamos emissões de Escopos 1, 2 e 3.

O que são esses escopos?

Isabella Costa – O escopo 1 é referente aos nossos processos, as emissões sobre as quais temos total controle, o que inclui os processos de mineração, de beneficiamento e de produção dos produtos que vendemos para os clientes. O escopo 2 é referente ao consumo de energia da Vale: nem sempre produzimos a energia, mas temos o controle do consumo. Se compramos essa energia de fontes renováveis e conseguimos trabalhar com eficiência energética, conseguimos reduzir consumo. No escopo 3 estão todas as emissões de atividades dentro da cadeia. Esses escopos seguem a recomendação do GHG Protocol.

Como é a estratégia para atingir a meta de carbono da Vale?

Isabella Costa – Baseamos essa estratégia em três pilares: mudar processos para reduzir emissões; sequestrar carbono da atmosfera (através de projetos florestais ou soluções da natureza). O último pilar é o mercado de carbono. A Vale defende a precificação de carbono e vamos ao mercado de carbono para atingir a meta. Esses três passos são concomitantes.

Qual a participação do ITV DS?

Isabella Costa – O ITV DS começou a fazer um trabalho forte conosco. Ele já vinha fazendo esse trabalho de inventários florestais e agora lançaram uma plataforma importante, com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que foi desenvolvida com a Microsoft que ajuda a identificar riscos de desmatamento na Amazônia. Mas o ITV DS também tem uma atuação importante nesse trabalho que eu coordeno, pelo lado das mudanças climáticas, que é a análise de riscos físicos das mudanças climáticas.

O trabalho é conjunto?

Isabella Costa – Sim, trabalhamos muito de perto. Eles nos ajudam a validar os resultados nessas projeções climáticas, previsões de variáveis climáticas, como precipitação, aumento de temperatura, eles atuam muito nessa parte. Na verdade, nenhuma solução, sozinha, vai resolver o problema. A gente precisa de uma diversificação de soluções como mostramos na estratégia da Vale: projetos para reduzir, mudar processos, de inovação, depois partir para uma parte florestal para conseguir ajudar a sequestrar e depois para os créditos de carbono para a parte residual. Como eu digo, uma matriz energética só é segura se a gente conseguir diversificar ao máximo os tipos de produção de energia. E eu acho que isso se aplica perfeitamente à questão de mudanças climáticas.