Um grupo de cientistas recriou diversas espécies de dinossauros a partir do uso de seus DNAs encontrados na barriga de mosquito conservado em âmbar. Essa, é claro, não é uma notícia real, mas sim a premissa do filme “Jurassic Park”, de 1994. O que as pessoas não sabem é que, apesar de uma história ficcional, a ideia do filme tem correspondência com a ciência. Por exemplo, é possível encontrar o DNA de animais em extinção no estômago de mosquitos e, consequentemente, adquirir informações importantes sobre o animal em questão.

No final de 2022, o Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável (ITV-DS) em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou um programa ousado e inovador, que parte, mais ou menos, da premissa do blockbuster dos anos 90, sem a parte de trazer dinossauros (ou outros animais) de volta, é claro. 

Intitulado “Pesquisas moleculares como ferramenta para a conservação da biodiversidade“, o projeto é uma proposta inédita de mapeamento genético e genômico de espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção, exóticas ou que tenham potencial para gerar renda para agricultores envolvidos com projetos de bioeconomia. Alexandre Aleixo, pesquisador líder do do grupo de genômica ambiental do ITV e coordenador do projeto detalha a proposta: 

“Esse não é nem um projeto de pesquisa no sentido tradicional. Na verdade, é um programa de pesquisas com uma interação forte com a política governamental focada em conservação de espécies como um todo. É um projeto que tem quatro iniciativas distintas dentro dele, e elas estão agrupadas dentro da parte de DNA Ambiental e de Genômica”. 

Programa inédito e seus objetivos

Aleixo explica que as iniciativas relacionadas ao DNA Ambiental têm o objetivo de  identificar espécies da biodiversidade brasileira a partir de seus DNAs espalhados pelo meio ambiente. Por meio do DNA ambiental, é possível, por exemplo, identificar se em um local há uma espécie rara que não é vista com facilidade. 

“Quando um animal espirra, defeca, troca de pele, de pena, ele espalha seu DNA pelo mundo. É até um pouco análogo ao que acontece com a ciência forense. A ideia aqui é detectar o DNA e identificar a qual espécie ele pertence. Mas para fazer isso, a gente precisa de uma ‘biblioteca genômica'”. 

O sequenciamento de milhares de amostras resultará em um banco estruturado de dados com critérios de categorização. Segundo o pesquisador, o projeto também realizará o sequenciamento genômico de espécies ameaçadas de extinção. A informação gerada será utilizada para desenhar as estratégias de conservação da biodiversidade em todos os biomas no Brasil. Por meio de um supercomputador utilizado no ITV, será possível analisar o DNA Ambiental e o sequenciamento de genomas. 

Outro objetivo do projeto é elencar quais são os biomas prioritários para a amostragem e quais são as espécies também prioritárias para a realização de trabalhos de genômica. O programa buscará investigar, ainda, a diversidade genética de cada espécie, o que possibilitará compreender os processos de extinção e suas razões. 

“Até agora isso não é aplicado no Brasil de uma forma estruturada, muito menos como política de governo e de conservação da biodiversidade. Então, o aspecto mais relevante desse programa é que o ITV vai impulsionar esse nivelamento do órgão ambiental brasileiro em conduzir levantamentos usando DNA Ambiental.”

Pesquisas de milhões

O programa “Pesquisas moleculares como ferramenta para a conservação da biodiversidade” foi apresentado ao mundo em dezembro de 2022, durante a COP Biodiversidade que aconteceu em Montreal, no Canadá. O programa receberá investimentos de R$ 111 milhões nos próximos cinco anos para realizar pesquisas em Unidades de Conservação Federais sob responsabilidade do ICMBio em todo o Brasil. O objetivo é que até 2027 pelo menos 300 genomas de referência sejam gerados pelos pesquisadores.