O programa “Pesquisas moleculares como ferramenta para a conservação da biodiversidade” é resultado de uma parceria firmada entre ITV-DS e ICMBio. Trata-se de uma iniciativa inédita no Brasil que pretende fazer o mapeamento genético e genômico de espécies ameaçadas de extinção. Além disso, o programa capacitará servidores e reunirá pesquisadores de diversas áreas. Nesta entrevista, a coordenadora técnica do projeto no ICMBio Amely Martins fala sobre a parceria com o ITV e sobre os diferenciais da proposta. 

ITV: Como você chegou à coordenação técnica do projeto no ICMBio? 

Amely: Eu sou analista ambiental desde 2007, e, atualmente, sou lotada no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação De Primatas Brasileiros (CPB), que é um dos quatorze centros especializados do ICMBio. Eu sou bióloga, formada pela Universidade Federal da Paraíba e, durante a minha graduação, trabalhei com biologia molecular e bioinformática de leishmania. Quando eu passei no concurso, comecei a trabalhar com os primatas aqui no ICMBio e tive o interesse de trabalhar com a parte de genética e genômica. Com a proposta de fazer o acordo de parceria com o ITV, participei junto com várias outras pessoas do ICMBio na construção da proposta de trabalho. E quando ele foi firmado, eu fui convidada pela coordenação geral de pesquisa para conservação para coordenar tecnicamente o projeto aqui dentro do ICMBio. 

ITV: Qual é a história por trás dessa parceria? O que o ICMBio viu de importante nesse projeto? 

Amely: O acordo foi estruturado em 2022. Do lado do ITV, ele partiu dessa proposta do projeto Amazoomics, de 2020. Eu acho que o interesse do ICMBio veio da identificação da carência do estabelecimento de parcerias e cooperação para o fomentar o uso de tecnologias de genética e genômica para conservação da biodiversidade. Então, eu acho que foi percebido pela direção à época que essa poderia ser uma oportunidade de capacitar os servidores, desenvolver protocolos e usar ferramentas das áreas de genômica e genética para conservação da biodiversidade. A partir dessa visão ampla e macro, acho que a gente têm os pilares importantes para estabelecer isso como metodologia. Não quer dizer que o ICMBio não tenha iniciativas próprias: temos iniciativas isoladas e diversas, mas ainda pequenas diante da necessidade. 

ITV: E o que vocês esperam encontrar como resultado dos diferentes estudos que farão parte do programa como um todo? 

Amely: Eu acho que um primeiro resultado esperado é o estabelecimento dessa rede de pesquisadores, tanto do ITV e do ICMBio quanto de outras instituições parceiras que futuramente venham a integrar o projeto. Outro resultado é a capacitação de servidores. Quando eu falo em capacitação, não é só a questão finalística das análises genômicas em si, mas do estabelecimento de protocolos que vão desde o trabalho de campo, da coleta de amostras e de acondicionamento dessas amostras, quanto da capacidade técnica em pensar projetos, em designs metodológicos que possam usar essas tecnologias. 

ITV: Esse programa não é um projeto de pesquisa tradicional, certo? Ele vai englobar várias pesquisas e projetos. Qual foi o motivo dessa decisão? 

Amely: A minuta do projeto, que foi feita no ano passado, englobou muitos atores. Por isso decidimos deixá-lo como um guarda-chuva e ainda vamos definir quais serão os projetos pilotos. Mas a ideia é que a gente tenha pelo menos seis projetos pilotos sendo executados e finalizados nesse prazo, até 2027, e que conversem com os processos institucionais do ICMBio. Sejam projetos que atendam necessidades, por exemplo, listadas nos planos de ação nacional para conservação das espécies ameaçadas, ou que atendam à demanda de ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade (especialmente a biodiversidade amazônica).

ITV:  Qual o diferencial desse programa? 

Amely: Eu acho que a inovação é justamente montar essa rede tão grande de atores de diferentes setores, porque já existem iniciativas, não só no ICMBio, mas também na academia, que fazem esse tipo de pesquisa com algumas espécies ou em um determinado local. Mas nunca se teve um projeto tão grande no sentido de integrar uma rede ampla e focar em processos que são reconhecidos por uma instituição brasileira, a qual é responsável pelas unidades de conservação, com avaliação do risco de extinção e com a elaboração e a implementação dos planos de ação nacionais.