Renata Tedeschi é graduada em Física, mestre em  Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental pela Universidade Federal do Paraná e doutora em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Desde 2018, ela é pesquisadora do Grupo de Tecnologia Ambiental, do ITV. Atualmente coordena o projeto “Previsão mensal de precipitação para áreas de interesse da Vale”, em que une metodologias tradicionais e machine learning para garantir a precisão de previsões meteorológicas. Nessa conversa, Renata falou sobre sua carreira e como sua pesquisa é desenvolvida. Confira: 

ITV: O que lhe motivou a se tornar pesquisadora? 

Renata: Meu pai é professor de química, e quando eu estava no Ensino Médio, ele também dava aula de física. E eu sempre fui apaixonada pela área de exatas. Eu tinha dúvida entre fazer odonto e física, mas acabei escolhendo a física. Acabei entrando na iniciação científica em meteorologia, e já no meu primeiro projeto, comecei a trabalhar com El Niño, que é o crescimento anômalo das temperaturas das águas do Pacífico, e La Niña, que é o resfriamento dessas águas. Eu fiz iniciação científica durante toda minha graduação. E isso me levou ao mestrado na área de meteorologia. E, em seguida, ao doutorado e ao pós-doc. 

ITV: Para você, qual a importância da meteorologia? 

Renata: Eu acho a física muito linda, mas, a meu ver, a mais fascinante é a física clássica. E a meteorologia é física clássica pura. Porque a meteorologia nada mais é do que o estudo da física na atmosfera. Juntando isso, eu também queria desenvolver estudos que pudessem ser aplicados diretamente na sociedade. E a meteorologia tem isso. Ela não afeta daqui 10, 15 anos, ela afeta o hoje, mesmo quando falamos de mudanças climáticas.  No Inpe, tive a oportunidade de trabalhar com o público e isso me fez ver a realidade da população brasileira. Lembro-me de um caso que me chamou bastante atenção em que, no período final de estação seca,  um agricultor do norte do Tocantins me ligou desesperado querendo informações sobre chuva. Segundo ele, se não tivesse chuvas, não teria como plantar e alimentar a família dele. Isso mexeu comigo e me fez ter certeza que meu trabalho ajudava a população. 

ITV: E como você chegou ao ITV? 

Renata: Em 2016, eu recebi uma proposta de emprego no ITV. Na época, por motivos pessoais, eu acabei não aceitando. No ano seguinte, tive a mesma proposta de emprego e neguei novamente, pois meu filho tinha acabado de nascer. Pensei que nunca mais iam me chamar, mas me chamaram mais uma vez em 2018. Dessa vez aceitei. Comecei a trabalhar com previsões mensais, não mais sazonais somente. 

ITV: E como essa pesquisa é feita? 

Renata: Hoje eu sou coordenadora do projeto de previsão mensal de precipitação para área de interesses da Vale. Esse projeto usa métodos de machine learning, por isso ele integra as áreas de Tecnologia Ambiental e Ciências de Dados do ITV. Usamos os métodos de machine learning para fazer previsões mais acertadas em comparação às previsões feitas com estatística básica. Em resumo, estamos tentando procurar métodos de aprendizado de máquina que melhorem a previsão de precipitação mensal e sazonal para a região do corredor norte.

ITV: Qual a principal característica de fazer pesquisa em uma instituição como o ITV? 

Renata: Quando você se depara com uma empresa privada, você vê que as realidades são diferentes da esfera pública. Então, a pesquisa é mais direcionada para as necessidades da instituição. Sempre trabalhei com previsões sazonais, mas, agora, é importante fazer as previsões mensais, pois elas interferem mais nas operações da empresa. Por exemplo, há dias que a Vale não pode produzir, pois se chover, molha o minério. Ou não pode transportar esse minério com um certo grau de umidade. Então, é importante que a previsão seja feita para que as operações sejam melhor planejadas. Além da previsão mensal, também precisamos de previsões por hora, três meses, seis meses e 12 meses. 

ITV: Como se dá a relação da meteorologia com a hidrologia? 

Renata: Acho que a maior relação está na chuva e na vazão. Normalmente, separa-se hidrologia e meteorologia, porque temos o ciclo hidrológico, que vai da evaporação da água ao escoamento. Para a meteorologia, o escoamento não interessa tanto, já para a hidrologia, é preciso considerar o ciclo completo. Então, trabalhamos também no sentido de fornecer dados para a hidrologia. Inclusive, temos aqui um trabalho feito em parceria com o Paulo Pontes, que verificou as vazões dos rios no futuro. 

ITV: Quem são as pessoas que estão com você neste projeto?

Renata: Dentro do grupo de Tecnologia Ambiental, a gente tem três pesquisadores que trabalham com meteorologia, cada um é responsável por um projeto. Mas a gente se ajuda. Também temos os pesquisadores da Ciência de Dados e os bolsistas. Aqui é importante ressaltar esse caráter multidisciplinar das pesquisas do ITV. Quando a multidisciplinaridade ocorre, vemos que há um aprendizado muito grande e uma ampliação das discussões que vão além daquilo que estamos habituados a fazer.